PONTO DE VISTA
Tendo dados, é possível fazer diagnósticos, identificar oportunidades e, mais importante, é necessário (e possível) que o setor e cada cadeia de valor façam um plano setorial ou “Roadmap” para o baixo carbono, onde se estabeleçam metas críveis de mitigação nos próximos 30 anos, sendo apresentadas soluções com maior potencial a serem desenvolvidas de forma não competitiva e competitiva, áreas onde a inovação será necessária. Com isso, é possível formular políticas públicas, inspirar empresas e virar cultura. O nosso maior exemplo é a indústria do cimento que já tem um “Roadmap” para baixo carbono, que agora começa a ser revisado, adotando metas mais ousadas devido à exigência atual. Traçado o plano é necessário fazer o acompanhamento, medindo os indicadores ao longo do tempo, corrigindo rotas, buscando novas soluções.
Em termos de produtividade e competitividade, quais as estratégias a serem adotadas pelo setor da construção?
A competitividade das soluções tecnológicas e das empresas vai depender cada vez mais da produtividade das soluções, já que a força de trabalho começa a diminuir em menos de 15 anos, devido ao envelhecimento da população. Enquanto os recursos humanos se tornarão mais caros, haverá um barateamento da automação, tecnologia e capital. A pegada de CO2 será um custo: a precificação do carbono é inevitável. Isso redefine a competitividade das soluções. O nosso grupo da Poli USP e a unidade EMBRAPIi CICS Poli USP de Construção Sustentável está 100% focada nestes temas e temos tido muito sucesso em encontrar parceiros empresariais que nos desafiam.
As empresas precisam parar de avaliar a competitividade de uma solução olhando apenas o custo, de esperar que uma nova tecnologia terá retorno na primeira semana ou na primeira obra, que um doutorado na USP ou no MIT significa que temos uma tecnologia desenvolvida, ou que se a academia não resolveu todos os problemas é porque é incompetente. É importante entender que pesquisa de laboratório chega em uma maturidade tecnológica baixa, e que inovação é produto no mercado, sendo feito por empresas. Em processos “deep tech”, os verdadeiros investimentos começam quando as empresas entram no jogo.
Uma característica interessante é que em concreto, argamassa, blocos, a pegada de CO2 é uma função do teor de cimento. Como o cimento é algo em torno de 50% do custo de materiais, quem é eficiente na dosagem de cimento, tem menor custo e também tem menor pegada de CO2.
Como analisa o papel da industrialização na construção civil nos aspectos relacionados à produtividade e redução do impacto ambiental?
O artesanato da construção melhorou a vida das pessoas, vivemos mais e mais confortavelmente e nos trouxe até aqui. Contudo, ele é ineficiente, usa mais recursos que o necessário, depende de mão-de-obra barata e não é compatível com otimização. O futuro está na produção fabril.