PONTO DE VISTA
A digitalização ou automação – mecatrônica, impressão 3D – e os conceitos de customização em massa viabilizam a construção modular, onde a obra é um produto e não resultado de um projeto único, mudam o jogo e dão enorme vantagem a produção fabril. Não acredito em impressão de casas no canteiro, com chuva, trovoada, incomodo da vizinhança.
O que falta para o setor da construção ampliar o nível de industrialização no processo construtivo?
Certamente o nosso grande desafio é cultural, no sentido amplo: o design dominante é a construção no canteiro. A cidade, os edifícios, os produtos, toda a cadeia de valor, as normas os códigos de obra nos levam para soluções que foram desenvolvidas e aperfeiçoadas para a construção tradicional por 500 anos. Vi três ou quatro ondas de industrialização e esta é mais forte. Mas iremos perder, se subestimarmos as barreiras, o país, o ambiente e a população.
Mudar o design dominante é um enorme desafio técnico, cultural, legal e de modelo de negócio. É uma tarefa de grupo, associativa e pré-competitiva. Por isso, criamos a Aliança da Construção Modular, que hoje reúne mais de 40 empresas do setor.
Existe um excelente potencial de mitigação dos impactos ambientais com a construção industrializada em geral. Mas, não é regra geral: algumas soluções industrializadas da atualidade têm impactos ambientais, pegada de CO2 em especial, maior que a construção convencional, como por exemplo, os esforços de manuseio e transporte de grandes peças e a necessidade de resistências iniciais elevadas aumenta o consumo do cimento e, muitas vezes, faz com que a resistência final fique bem acima da de projeto. Mas esses podem e serão resolvidos com inovação.
As ferramentas da indústria 4.0 têm sido aplicadas na indústria da construção? Como ampliar sua utilização?
O setor tem discutido muito o BIM, mas existe uma esperança exagerada no que um software pode fazer em uma cadeia artesanal. Em muitas obras tradicionais, sem mudança de gestão e modelo tecnológico, o BIM significa mais trabalho e mais custo. Isso muda na construção industrializada, onde o emprego é bem maior.
A impressão 3D em concreto é bem popular. No hubIC estamos montando, sob a liderança do Rafael Pileggi, um laboratório único para ajudar as empresas a buscarem soluções e colaborarem de forma pré-competitiva. Mas, precisamos achar mercados onde o produto possa ser competitivo de fato. E aperfeiçoar a tecnologia, aumentando a produtividade. Desenvolver as tintas, criar uma cadeia de valor, maquinas e projetos.
A mecatrônica simples pode ser uma grande ferramenta para dar maior produtividade e competitividade na construção industrial. E isto vai além da impressão 3D, chegando a automação simples de produção de painéis e módulos 3D, como o professor Al Hussein tem desenvolvido na Universidade de Alberta. Na maior parte dos casos, não precisamos dos caros robôs que a Katerra utilizava. Isso é um desafio interessante.