PONTO DE VISTA
Tributo ao Professor Augusto Carlos Vasconcelos
Início da pré-fabricação no Brasil*
Ao voltar de um estágio de 14 meses em Munique (1955), estava entusiasmado com as aulas do Prof. Hubert Rüsch. No curso de graduação ele abordava o ensino do concreto armado de maneira totalmente diferente do que tive no Brasil: não apresentava demonstrações algébricas (quem quisesse poderia consultar nas suas apostilas, distribuídas aos presentes no fim de cada aula). Os conceitos eram aprofundados e cada cláusula da norma DIN 1045 era justificada de forma minuciosa. Não era ainda aceito o cálculo no Estádio III. A Alemanha (diferente do Brasil) só aceitaria a mudança depois de resolvido o impasse: o cálculo estático forneceria os esforços determinados em serviço, tais esforços eram ampliados por um fator de segurança como se o momento fosse linear, o que não é verdade. A Alemanha nunca aceitaria isso.
No concreto protendido tive a sorte de assistir às aulas de Rüsch que dava o curso pela 2ª vez após a guerra. Não havia o estado limite. A protensão e os efeitos dos carregamentos externos eram determinados pelas tensões em serviço. Além disso, Rüsch introduziu o que chamou “verificação da segurança a ruptura”.
De lá para cá tudo sofreu enormes alterações. Por exemplo: Não se aceitava a protensão parcial, não haviam coeficientes parciais de segurança, ruptura com e sem aviso prévio era estudada diferentemente, os cabos de protensão eram obrigatoriamente aderentes, não se pensava em durabilidade da estrutura e nem em colapso progressivo.
A aderência entre concreto e aço era pouco estudada e por isso Rüsch sugeriu este tema para minha tese.
Todos estes fatos se somaram e no Brasil encontrei um campo favorável para a introdução do concreto protendido com sistema de pré-tração.
Em nosso país pouco se fazia neste campo (hoje em cabos muito finos) e tive audácia de realizar a pré-tração em cabos de 5mm, não admitida na Alemanha. Tive a sorte de começar com estacas que só necessitavam de protensão até serem posicionadas verticalmente para a cravação.
Depois de tudo dar certo aventurei-me a estudar a produção para galpões pré-moldados tipo “shed”.
Hoje existem muitas fábricas com trajetória de sucesso. O que emperra um progresso maior é o sistema tributário que penaliza qualquer construção executada fora do canteiro de obras. Algum dia o poder legislativo perceberá o erro de travar este desenvolvimento.
Atualmente, quase não se utilizam fios lisos, surgiram as cordoalhas que permitem aplicar ao aço maiores tensões prévias sem perigo do escorregamento do concreto. Já existem cordoalhas com diâmetro equivalente a 16mm com capacidade de 20tf. A situação hoje é totalmente diferente da que existia em 1955. O futuro está garantido, mas estaria muito melhor acompanhando o progresso no exterior e se fosse revisado o regime tributário que dificulta a industrialização da construção civil em nosso país, pois da forma como está não é fácil competir com os sistemas convencionais.
Industrializar a construção significa reduzir os prazos de execução das fundações e da superestrutura, acelerando sobremaneira a execução das obras. A execução protegida de condições climáticas adversas é favorável não só a prazo, mas também a qualidade. A possibilidade de utilizar matérias mais resistentes pelo controle de qualidade mais rigoroso que as instalações fixas possibilitam melhor acabamento superficial pelas superfícies lisas das formas metálicas de múltiplo uso. Garantia da execução da cura e armazenamento adequado contribuindo para a durabilidade das peças. As vantagens são muitas e óbvias e poderão ser mais usufruídas a medida em que o a utilização do sistema cresça.
*Relato do Professor Vasconcelos para a 8ª edição do Informativo da Abcic, publicada em Agosto de 2010