PONTO DE VISTA
Essa fase trouxe visibilidade para o setor e uma mudança importante: antes se atuava preferencialmente em nichos tradicionais e depois desse momento ampliamos a presença em obras mais complexas.
O que se percebe, portanto, é que após grandes dificuldades, surgem muitas oportunidades para o setor. Levando-se em conta que estamos no momento mais complexo em gerações, com o pós-crise da corrupção da construção civil desvendada pela Lava-Jato, com o pós-pandemia da COVID-19, com a tensão gerada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e às vésperas de uma eleição diferente em termos de segurança jurídica e grande divulgação de fake news, temos que acreditar que, após esse momento, os próximos anos serão de grande estímulo para a industrialização no Brasil; algo nunca visto antes.
O Brasil está fadado a crescer, pelo tamanho de seu território, tamanho da população, riquezas naturais, contexto geopolítico e reconhecida capacidade empreendedora dos seus empresários.
Para o futuro, temos bastante demanda reprimida no nosso país. No mercado imobiliário, em especial movido pelo déficit habitacional, mas também na infraestrutura, onde a evolução da industrialização depende principalmente das questões de isonomia tributária com setores tradicionais da construção, de um melhor financiamento de capital voltado para obras de cronogramas mais curtos e a reorganização da estrutura de mercado nos modelos de licitação de obras públicas e contratação de obras privadas.
Não solucionar esse tripé será um impeditivo para a explosão da industrialização, tanto da pré-fabricação de concreto como de outras soluções off-site. É importante frisar que o limitador das soluções off-site não é a capacitação técnica.
Quais são as prioridades do setor nesta conjuntura?
No que diz respeito aos entraves do setor, continuar a militância no grupo de trabalho pró-industrialização, onde é bem importante a integração institucional dos setores que potencializa toda essa conjuntura. Em outras frentes, com a crise econômica e pandemia, houve um afastamento natural dos associados, por esse motivo é importante resgatar e fortalecer os relacionamentos. Entendo que o momento é de resgate do networking.
Além disso, fizemos um Planejamento Estratégico para o período de 2015 a 2020 e, em função pandemia, entendemos que não era hora de atualizar o plano. Porém, agora, pós-pandemia, vamos avançar nessa agenda para uma visão dos próximos 5 anos, capturando as mudanças sociais e de mercado que a Covid acelerou.
Outro ponto importante é a sustentabilidade e a COP-26, onde muitas metas foram geradas. Por isso, estamos em conjunto com entidades afins nacionais, como o IBRACON, e internacionais, como a fib, trabalhando neste tema.
Por fim, a qualidade, segurança e padronização, que desde o início da ABCIC, têm sido a bandeira que impulsiona o desenvolvimento tecnológico do setor. Não tem desenvolvimento tecnológico se não houver normalização e integração da qualidade, segurança e meio ambiente.
Qual sua avaliação sobre o setor de pré-fabricados de concreto no momento atual?
Nós estamos na moda, mas começamos esse trabalho a 50 ou 60 anos atrás. Então, o momento é muito propício para avançarmos em nichos que não eram atingidos anteriormente, mas também de consolidar as soluções já consagradas junto aos novos entrantes.
Falando sobre eles, precisamos ajudar esses empreendedores a entender nossa língua, homogeneizar vocabulário, desmistificar situações, além de quebrar alguns tabus. Tem muita gente começando agora que precisa ter cuidado para não desconstruir um trabalho sério, de credibilidade técnica, construído ao longo dos anos. Apesar da inovação ser imprescindível para o futuro e a disrupção fundamental na construção civil, sempre defendo que para construir o novo, é preciso conhecer o passado, senão você acaba não sendo eficiente o suficiente, e o gás pode acabar antes de conseguir se estabilizar. O fato é que a tecnologia do setor de pré-fabricados já está muito madura no Brasil e existem vários nichos a serem explorados, mas temos que cuidar para conseguir aumentar o bolo nos mesmos patamares de qualidade técnica, sustentabilidade e normalização que chegamos até aqui.