PONTO DE VISTA
A invasão da Rússia à Ucrânia já traz repercussões no aumento do preço das commodities e do petróleo e seus derivados. Quais serão os impactos para a construção e para o setor de pré-fabricados de concreto?
É importante lembrar que o setor da construção civil já sentiu os efeitos do aumento de preços e escassez durante a pandemia. No final do ano passado e início deste ano, houve um arrefecimento nos preços dos principais insumos, mas que podem voltar a subir com o conflito. Isso porque os insumos dependem de importação de matéria-prima para os aditivos utilizados na produção de concreto e aço. No caso específico do aço, é possível ver um aumento do preço internacional por ser uma comoditie. Além disso, a Rússia é um dos principais exportadores de petróleo do mundo. Com isso, haverá impacto em todos os seus derivados, elevando os custos com transporte e logística dos insumos e das estruturas produzidas.
E no caso do papel institucional da ABCIC, quais são os principais desafios?
Os objetivos da Abcic estão claramente expressos em nosso estatuto, complementados pelo nosso código de conduta. A ABCIC é indutora do desenvolvimento sustentável do nosso setor em distintas frentes, que englobam a tecnologia e inovação; disseminação do conhecimento e do sistema construtivo que representa; ensino e relacionamento (institucional e governamental).
Creio que o principal desafio está na extensão e abrangência do território nacional e em fazer com que as ações que foram bem estruturadas e consolidadas em seus primeiros 20 anos se expandam em todas as regiões representadas na entidade.
Outro desafio grande e contínuo é concorrer muitas vezes com o pré-moldado produzido em canteiro, sem a expertise da indústria, que por vezes não cumpre os requisitos normativos e deixa um rastro de manifestações patológicas prejudicando a imagem do sistema, quando não provoca acidentes, colocando em risco a integridade da estrutura e dos envolvidos no processo. O sistema é seguro, porém deve atender a todos os requisitos normativos estabelecidos para o projeto, produção e montagem.
Dessa forma, estamos sempre preocupados em disponibilizar ferramentas, que esclareçam o mercado sobre as boas práticas setoriais, como o Manual de Montagem, por exemplo. Ao mesmo tempo, estamos amplamente relacionados com novos temas, como a implementação do BIM (Building Information Modeling) e outras agendas relacionadas à digitalização, novos materiais, como o UHPC (Ultra-High Performance Concrete), e novos requisitos de desempenho e sustentabilidade.
Poderia comentar sobre o reconhecimento que a construção industrializada tem recebido por sua alta capacidade técnica e pela adoção de inovações e tecnologia?
Estamos vivenciando um momento muito peculiar da construção de uma maneira geral, pois o mundo sempre buscou a industrialização após momentos de grandes dificuldades, onde era necessário aquecer a atividade econômica ou reconstruir alguma infraestrutura de maneira rápida, como nos casos pós-guerra. Foi o caso da pandemia que alavancou a construções de hospitais de campanha com a tecnologia off-site, a partir do exemplo do hospital que foi mobilizado em 51 dias na China e chamou a atenção do Brasil e do mundo.
Costumo brincar que nós, do segmento da construção industrializada, estamos nos preparados para virar moda há 50 anos, pois este é um caminho inevitável. Para se ter uma ideia, o consumo de cimento industrial baixou 25% de 2014 a 2020, enquanto, no mesmo período, o share do cimento para pré-moldados cresceu de 8,1% para 12,3%. O fato é que a industrialização da construção civil já é uma realidade e não tem volta, mas esse movimento deve ganhar força pela atual demanda por velocidade na retomada da atividade econômica, maior racionalização da mão de obra, e a busca por construções mais adequadas à agenda ESG (Environmental, Social and Corporate), principalmente no viés da sustentabilidade, em função da baixa geração de resíduo desse tipo de obra.