Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 6 - dezembro de 2015

ARTIGO TÉCNICO

Propriedades dos concretos auto-adensáveis – possibilidades de diferenças com relação aos vibrados de mesma classe de resistência


Figura 2 – Relação entre resistência à compressão média e módulo de elasticidade tangente inicial

De maneira geral, têm sido verificados valores de retração total e de deformação lenta de concretos auto-adensáveis maiores que os de concretos vibrados. De acordo com diferentes autores, isso se deve ao fato de os concretos auto-adensáveis possuírem maiores teores de pasta em sua composição que os vibrados (Nassif, Aktas e Najm, 2008; Loser e Leemann, 2009; Leemann, Lura e Loser, 2010). 
Loser e Leemann (2009) chegaram a valores de retração para os concretos auto-adensáveis semelhantes aos dos concretos vibrados com a utilização de dosagens específicas de aditivos redutores de retração. Nos concretos auto-adensáveis estudados por Guneyisi, Gesoglu e Ozbay (2010), ficou evidenciado o efeito negativo da sílica ativa na retração e que esse efeito pode ser minimizado combinando a sílica ativa com outros tipos de adições.
 

3.Resistência à tração
Da resistência à tração dependem momento fletor de fissuração, armaduras mínimas, abertura de fissuras e outros aspectos considerados em projeto. 
Essa resistência tende a ser maior em concretos com agregados graúdos que levem a melhor aderência entre pasta e agregados (agregados britados e de menor dimensão máxima). Seria de se esperar, portanto, que a tendência de melhor aderência entre agregados e pasta de cimento dos CAA os levasse a terem maior resistência à tração que os CV de mesma resistência à compressão, mas isso nem sempre tem sido constatado.
Na análise da relação entre as resistências à tração por compressão diametral e à compressão de conjuntos de CAA e CV ensaiados por diferentes autores, feita por Coutinho (2011), não foi notada tendência de diferença entre os concretos vibrados e auto- adensáveis, ficando a resistência à tração, de maneira geral, entre cerca de 6% e 12% da de compressão e sendo ela menor para os concretos de maior resistência.


Figura 3 – Correlação entre velocidade de propagação de ondas ultrassônicas e módulo de elasticidade estático tangente inicial do concreto (Machado, 2005, p.196)
De acordo com Parra, Valcuende e Gómez (2011), quando se usa filer de calcário observa-se que a resistência à tração dos CAA tende a ser menor que a dos CV de mesma resistência à compressão, e a diferença depende da idade. Não parece ser esse o caso quando é usada sílica ativa ou cinza volante como adição (Holschemacher, 2004).
 

4. Resistência de aderência entre concreto e barras de aço
Tem-se verificado que a resistência de aderência de CAA pode ser da mesma ordem ou maior que a de CV de mesma classe de resistência e que a diferença tende a ser menor para os casos de concretos de maior resistência e barras de maior diâmetro (Almeida Filho, 2006; Desnerck, De Schutter e Taerwe, 2010; Looney et al., 2012; Helincks et al., 2013).  Constatou-se ainda que, em relação aos de CV com concretagem na direção vertical, nos elementos de CAA há tendência de menor influência da distância das barras de aço na posição horizontal à face inferior na resistência de aderência (Valcuende e Parra, 2009).
 

5.Consideraçôes finais
Em face dos diferentes tipos de materiais e das suas diferentes proporções que podem ser usados nos concretos, fica impossível avaliar realisticamente suas propriedades por meio de expressões genéricas aproximadas e simplistas, sendo desejável que a sua aplicação seja precedida de caracterização, principalmente no caso dos CAA.
Embora, em geral, as fórmulas que relacionam a resistência à compressão dos CV com outras propriedades dos concretos possam também ser usadas para os CAA, há alguns aspectos que merecem atenção.
A avaliação adequada das deformações instantâneas e ao longo do tempo de um elemento estrutural é de extrema importância, principalmente nos elementos protendidos, caso de grande parte dos pré-fabricados. Ao se fazer o dimensionamento de elementos de concreto auto-adensável, há que se atentar para a tendência de esses concretos terem menor módulo de elasticidade, maior retração e deformação lenta que os vibrados de mesma resistência à compressão. 
Se as deformações da estrutura precisam ser estimadas mais realísticamente, deve-se obter o módulo do concreto a ser usado por meio de ensaios ou de fórmulas calibradas a partir de ensaios de concretos feitos com os mesmos materiais, particularmente no caso de concretos de alta resistência e auto-adensáveis, e também investigar a retração e a deformação lenta.
Para aumentar o módulo de elasticidade dos CAA sem aumentar sua resistência à compressão e, consequentemente, diminuir deformações instantâneas e ao longo do tempo  de elementos de CAA, pode-se optar por usar agregados graúdos de maior módulo de elasticidade, o que nem sempre é viável, e/ou aumentar o teor desses agregados, e a retração também pode ser diminuída com o emprego de aditivos redutores de retração.
Embora o conhecimento do comportamento do concreto possibilite uma melhor avaliação do comportamento de elementos estruturais com ele produzidos, há outros parâmetros relacionados com características (dimensões, armaduras) e procedimentos de produção dos elementos (método de concretagem, tipo e tempo de cura, idade quando da protensão) e com condições de manuseio e armazenamento (caso de pré-fabricados) que afetam esse comportamento. 
Gross, Yost e Gaynor (2007), em ensaios de corpos de prova de CV e CAA encontraram menores valores de módulo e maiores de retração e deformação lenta nos CAA, sendo que estes tinham resistência à compressão um pouco maior que os CV, e verificaram maiores perdas de protensão e maiores deformações em vigas feitas com esses concretos, sem e com carregamento, ao longo de 300 dias. Já Keske et al. (2015) verificaram nos CAA módulos menores e retração e deformação lenta maiores que nos VC de resistência à compressão similar, sendo maior a diferença na retração, mas observaram comportamentos semelhantes de vigas protendidas feitas com esses concretos.
 Seria, portanto, desejável que exemplares de elementos a serem pré-fabricados em série tivessem seu comportamento investigado experimentalmente, principalmente os de maiores dimensões e de CAA.
 

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