Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 13 - maio de 2018

ARTIGO TÉCNICO

Resistência ao fogo das estruturas pré-moldadas de concreto e as considerações da ABNT NBR 9062:2017

Cassiano da Silva Zago - Engenheiro Estrutural da Leonardi e 
Mestre em estruturas pela UNICAMP
Íria Lícia Oliva Doniak - Presidente Executiva Abcic 
Marcelo Cuadrado Marin - Diretor Técnico ABCIC, Diretor de 
Engenharia da Leonardi e secretário da Comissão de Estudos ABNT NBR 9062

1)  Introdução
O objetivo do presente artigo é apresentar os aspectos referentes às estruturas pré-moldadas de concreto em situação de incêndio, bem como os recentes estudos internacionais monitorados pela ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), por sua participação na comissão 6 de pré-fabricação da fib (International Federation for Structural Concrete) e por sua parceria com o PCI (Precast Concrete Institute). Não serão aprofundados os conceitos técnicos que envolvem a resistência ao fogo, objeto dos demais artigos da edição 89 da Revista CONCRETO & CONSTRUÇÃO*.
Dentre os aspectos da matéria de suma importância, podem-se citar: o comportamento dos elementos estruturais frente ao sinistro, o efeito do ”spalling“ nas peças de concreto armado e protendido, questões relacionadas às melhorias nos processos e produtos por meio de pesquisas e prototipagem que servem como referência para melhorias contínuas, e, por fim, as questões relacionadas às ligações entre os elementos estruturais e o efeito do colapso progressivo.
Para tanto, se faz necessário o entendimento de que as estruturas pré-moldadas de concreto não se tratam de elementos isolados, mas sim de uma solução estrutural, envolvendo a análise do sistema estrutural como um todo.
 

2)  Histórico
A industrialização da construção civil tornou-se um tópico recorrente quando se trata de construções de grande porte e que exigem o atendimento de prazos ousados, sem que haja o detrimento da qualidade e o desenvolvimento de processos de execução que geram naturalmente soluções que atendam não somente o desempenho, mas forma e função. Neste cenário, a indústria do pré-moldado assimilou o conceito de qualidade e vem crescendo no decorrer dos anos, trazendo novos processos e tecnologias em seus produtos.
Quanto ao dimensionamento estrutural, é necessário prever adequadamente as solicitações impostas, fazendo com que a resistência do elemento seja suficiente para evitar sua ruína. Porém, mesmo uma estrutura com resistência admissível em situações de temperatura normal tem seu quadro alterado em situações de incêndio, pois, quando um elemento estrutural é submetido a altas temperaturas, as suas características mecânicas sofrem alterações, podendo ocasionar danos estruturais com possível risco de colapso.
Após estabelecido pela ABNT NBR 15200:2012 (Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio) em seu escopo que “Para estruturas ou elementos estruturais pré-moldados ou pré-fabricados de concreto aplicam-se os requisitos das Normas Brasileiras específicas. Na ausência de normas específicas, aplicam-se as recomendações desta norma”, o tema da resistência ao fogo foi abordado e contemplado na recente publicação das normas ABNT NBR 9062:2017 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado) e ABNT NBR 16475:2017 (Painéis de parede de concreto pré-moldado - Requisitos e procedimentos).
Nesse contexto, é necessário evidenciar o papel do projetista da estrutura e a sua responsabilidade em projetar uma estrutura pré-moldada para suportar as ações e as alterações nas propriedades mecânicas ocasionadas pelo aquecimento a altas temperaturas. Tanto é verdade que historicamente há exemplos de estruturas que sofreram tais solicitações e que, apesar dos prejuízos materiais e humanos, deixaram um legado no âmbito da segurança contra o incêndio.
Na cidade de Rotterdam, na Holanda, ocorreu em 2007 um incêndio nas garagens de um edifício de multipavimentos, localizado sob um complexo de apartamentos. Logo após o início do incêndio, ocorreu o colapso de parte do piso composto por placas alveolares protendidas. Apesar de não ter sido um colapso completo, esta falha não foi bem vista pela comunidade técnica, ocasionando assim a necessidade de se realizar um estudo abrangente para averiguar se este elemento estrutural teria sido capaz de resistir às solicitações impostas pela combinação da ação térmica e das cargas permanentes sobre as placas.
Alguns desses trabalhos foram publicados em revistas especializadas e outros resultados foram resumidos em uma carta aberta da BFBN (Federação dos fabricantes de produtos de concreto na Holanda), nos Países Baixos, em novembro de 2009 e depois em uma carta atualizada em junho de 2011, incluindo as conclusões encontradas pelos autores [1]. Esses trabalhos contribuíram de forma significativa para a compreensão da resposta mecânica das lajes alveolares quando submetidas a tal ação.
No caso do edifício Ronan Point, de 21 andares, com tipologia estrutural em placas portantes estruturais, localizado em Londres, ocorreu o colapso progressivo de parte da estrutura devido a uma explosão de gás, causando assim a morte de quatro pessoas e ferindo mais dezessete.
A notória ruína, causada por uma solução de baixa redundância, levou a uma perda de confiança pública em edifícios residenciais de grande porte que utilizam essa tipologia estrutural, resultando dessa forma em grandes mudanças nos regulamentos de construção do Reino Unido.
Apesar dessa ruptura não ter sido ocasionada diretamente por um incêndio, e sim por uma explosão, não deixa de ser um exemplo real de uma estrutura pré-moldada que merecia uma atenção especial com relação às ações excepcionais. Van Acker, em contribuição para o livro de Chastre e Lúcio, apresenta soluções para o problema do colapso progressivo [2].
 

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