Ponto de Vista
Reconhecido por seus pares com um dos mais competentes e produtivos projetistas de estrutura do país, o engenheiro Fernando Stucchi, que já elaborou cerca de 150 projetos de grandes obras no país, entende que as perspectivas da engenharia e também da área de pré-fabricado são muito boas no país. “As deficiências nas áreas de infraestrutura e de habitação são tão monstruosas que os governos terão de encontrar recursos para investir nessas áreas de qualquer maneira, o que impulsiona a construção e também o pré-moldado”, disse ele à Industrializar em Concreto.
Com sua longa experiência como professor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Escola Politécnica da USP, que inclui a orientação de 19 mestrados e cinco doutorados, entre centenas de trabalhos técnicos publicados, Stucchi também falou sobre os gargalos da pesquisa, do bom relacionamento do Brasil com a fib - Federação Internacional do Concreto, da importância do BIM (Building Information Model) e da recente revalorização da carreira de engenheiro. Na sequência, os principais pontos abordados por ele:
Em que medida a atuação da fib contribui para o desenvolvimento da engenharia brasileira e, em especial, o segmento do pré-moldado de concreto?
O Brasil tem como tradição usar o conhecimento desenvolvido na Europa. Talvez pela influência dos nossos primeiros engenheiros, que lá se formavam. Sempre recorremos ao conhecimento desenvolvido na Alemanha, França e Suíça. Na verdade, o que a fib faz hoje é congregar escolas e institutos de pesquisa de diversas partes do mundo, organizando os resultados experimentais que são, depois, aproveitados por todos. Não tem sentido a gente repetir esses ensaios aqui. O que complica um pouco é que nossa cultura técnica é bem diferente.
Quais as principais diferenças?
Temos de ter consciência que a gente faz as coisas de forma muito econômica. Usamos pouco concreto e pouco aço, em parte por não termos terremotos nem ventos muito fortes. Mas também por termos vivido durante muito tempo em crise, o que nos forçou a construir com menos. Nossas obras são realmente muito econômicas. Temos de adaptar alguma coisa do que tiramos de lá para a nossa cultura técnica e também estudar os nossos materiais. Devemos aproveitar o máximo que eles fizeram e levar um pouco do que conseguimos aqui. Logicamente aproveitamos muito mais das pesquisas deles, pois eles têm mais recursos para pesquisa. Embora tenhamos uma engenharia forte aqui no Brasil que sempre se empenhou para, mesmo sem muito recurso, em desenvolver bons trabalhos e referenciais no contexto internacional. O que nos faltou por muito tempo foram as oportunidades.
E qual a nossa contrapartida para a fib?
Temos algumas. Três alunos meus de mestrado, por exemplo, fizeram ensaios de fadiga em lajes de concreto armado, com os detalhes usuais da nossa cultura de pontes em vigas pré-moldadas. Só para ter uma ideia, as lajes das nossas pontes rodoviárias em grelha, são executadas com pré-laje e capa totalizando 18 a 20 cm, sem estribos. Na Europa não tem menos que 25 cm e com estribos. Fazemos menos espessa porque nosso critério nesse aspecto está mais adiantado em razão da nossa necessidade de economia. Fomos testando e alcançamos um bom resultado, sem perder eficiência, nem capacidade de carga, até pelo fato de que o caminhão brasileiro é mais pesado do que o europeu. As primeiras obras feitas com essa solução são de 1981 e, portanto, já possuem mais de 30 anos e com uma resposta muito boa. É o lado positivo da nossa crise: conseguimos fazer tudo mais econômico. Outro exemplo foi um doutorado que orientei também bastante interessante sobre cargas rodoviárias, que serviu até de base para a revisão da norma de cargas rodoviárias – NBR7188.