ABCIC EM AÇÃO
Evento promovido pela ABCIC, em Florianópolis, contou com a participação de especialistas e um público de cerca de 100 profissionais da construção civil
O Seminário da Abcic contou com três palestras magnas. A primeira foi ministrada pelo engenheiro Roberto José Falcão Bauer, sócio do Grupo Falcão Bauer, que proferiu palestra sobre “Estruturas Pré-fabricadas de Concreto: Desempenho e Sustentabilidade”, destacando conceitos de durabilidade. “Como resultado de interações ambientais, a microestrutura, e consequentemente, suas propriedades mudam com o tempo. Mesmo as estruturas bem calculadas, executadas e utilizadas sofrem desgaste natural e necessitam de manutenção. Assim, a eficácia do sistema de gestão de manutenção preventiva e corretiva, conforme as normas vigentes, garantirá o desempenho esperado durante a vida útil da estrutura”, disse.
Bauer ressaltou também a importância do planejamento em obra e a obtenção de dados indicativos para conhecimento a respeito da sustentabilidade, produtividade, desempenho e rentabilidade. “Nesse sentido, a criação de um banco de dados é fundamental, pois, permite armazenamento de todas as informações coletadas, garantindo conhecimento homogêneo por parte dos responsáveis pelos processos. Quando há um banco de dados, todos têm acesso às informações de diferentes frentes de trabalho com rapidez e maior segurança na tomada de decisões. Além disso, garante a execução do planejado e fidelidade ao padrão estabelecido”.
Outro ponto abordado por Bauer foi a industrialização e seus benefícios, como o menor prazo de execução, produção independentemente das condições climáticas, implementação da saúde e segurança do trabalho, aumento da eficiência energética, controle de recebimento das matérias primas, uso de mão de obra especializada na produção, maior precisão e qualidade geométrica das peças e eficiência do controle e da qualidade do produto.
“O ideal é que haja a rastreabilidade, ou seja, rastrear aspectos de qualidade, treinamento, manutenção de equipamento, pesquisa de satisfação dos clientes, prazos, sustentabilidade, monitoramento de processos, controle, banco de dados, análise e revisões. Desse modo, é possível realizar um monitoramento e identificar pontos que devem ser melhorados”, avaliou Bauer.
A segunda palestra magna, ministrada pelo professor Wellington Repette, da Universidade Federal de Santa Catarina, trouxe informações sobre o Concreto de Ultra-Alto Desempenho (CUAD), do Inglês UHPC (Ultra High Performance Concrete) e as oportunidades da indústria de pré-fabricado. “Esse concreto já existe há mais ou menos 20 anos e ele já é bastante consolidado em alguns países. Possui uma resistência a tração de 5 MPa a 11MPa, elevadíssima durabilidade e podemos ver atualmente concretos com até 400 MPa. Isso mostra que a engenharia civil evolui constantemente e que, certamente, vamos chegar a condições ainda mais expressivas em termos de resistência”, avaliou.
Repette citou os materiais que compõe um concreto de ultra-alto desempenho, destacando que a relação água-cimento é muito baixa, da ordem de 0,20, partículas finas, sem agregado graúdo e agregado miúdo muito fino. “A questão principal é a baixa relação água-cimento, que proporciona pequeno espaçamento entre as partículas do cimento, o que faz com que qualquer hidratação crie união entre partículas. Assim, não é preciso ter um grau de hidratação elevado para criar resistência e isso gera benefícios, em especial, maior resistência e durabilidade, menor permeabilidade e a questão da cicatrização”, explicou.
O professor também abordou o uso de fibras para a composição do UHPC. “É uma escolha muito importante para quem for desenvolver esse tipo de concreto porque as fibras costuram as microfissuras e as aberturas de fissuras, controlando o comportamento mecânico e causando um efeito de fretagem, um cintamento localizado”, explana. Entre os tipos de fibras utilizadas estão as sintéticas, orgânicas, plásticas e metálicas. “A maior parte dos painéis é feita com fibras orgânicas. Já em termos de resistência, a fibra metálica é imbatível”, ressaltou. No entanto, ele ainda alertou para o custo que a fibra pode ter para a elaboração desse concreto: de 65% a 70% do custo total, considerando que o aço em elementos como painéis por exemplo é substituído entretanto podem existir elementos como vigas de pontes e talvez outros que possam ser combinados com a protensão.
Em sua apresentação, Repette ainda explicou o procedimento de mistura, explicou sobre o tempo de cura desse tipo de concreto e trouxe um estudo de caso de uma universidade do Canadá a respeito da ductilidade do concreto com 3% de fibras. “Enquanto o concreto convencional rompe com pequena tensão, carga e deformação. O que nós queremos é que UHPC rompa com bastante tensão, mas que continue suportando o carregamento depois da ruptura, que ele não estilhace e absorva bastante energia”, comenta. Ele ainda apresentou um estudo de um ex-aluno que fez uma avaliação do número de fibras da seção de cura e do fator de orientação da fibra. “Esse aspecto é relevante para quem vai fazer dimensionamento. Como o concreto adutoadensável flui, eu não tenho a mesma orientação e quantidade de fibras em todas as posições de peças”.
No caso do pré-fabricado de concreto, o professor da UFSC mostrou os benefícios da utilização do UHPC, como o desenvolvimento de peças mais esbeltas, que resultam em mais facilidade de transporte e manuseio, o desenvolvimento mais rápido de resistência, porque há um tempo menor na forma e na indústria, maior durabilidade e melhor acabamento. Já em termos de desafios em sua adoção, ele elenca: a adequação da planta industrial, o suprimento regular e uniforme de insumos, a pequena diversidade de fornecedores de insumos, e a questão de custos.
A terceira palestra foi proferida pelo engenheiro Augusto Pedreira de Freitas, coordenador da Comissão de Estudos da ABNT NBR 16475:2017 - Painéis de parede de concreto pré-moldado - Requisitos e procedimentos, que trouxe mais informações sobre o segmento de painéis e a referida norma. “Um dos principais objetivos da normalização dos painéis é respaldar tecnicamente profissionais para o desenvolvimento do sistema e estabelecer as condições para minimizar insucessos. Isso porque experiências mal sucedidas significam estagnação no desenvolvimento do sistema construtivo e até pode “matar” o sistema”.
Segundo Freitas, algumas questões motivaram a formação de uma comissão para normalizar esse segmento, incluindo as diversas obras no país com o sistema construtivo e a bibliografia internacional, que poderia contribuir com algumas referências. “Além disso, esse sistema já está consolidado no país e foi considerado um produto inovador, o que trouxe alguns desafios para os fabricantes e fornecedores do sistema”.
Outro ponto abordado pelo palestrante foi a questão do cuidado com o texto e com alguns elementos, uma vez que é a primeira norma. “Mesmo assim, não é uma cartilha de como dimensionar. Trata-se de uma normalização, ou seja, ela traz definição de conceitos, premissas e diretrizes de dimensionamento”, explicou Freitas. Entre os pontos da norma citados por ele no Seminário da Abcic foram: estoque, cargas verticais, excentricidade de projeto, limites de deslocamentos, dimensionamento, colapso progressivo e ligações. “Se a ligação foi bem projetada e bem executada, o pré-moldado de concreto vai funcionar muito bem. Por isso, no capítulo de ligações, redigida pelo professor Marcelo Ferreira, algumas hipóteses básicas foram consideradas”, disse. “Mas, quando há dúvidas e não houver referencial, devem ser realizados testes e ensaios”.
Freitas trouxe mais detalhes sobre ligações dependendo do tipo de painel. “As ligações em painéis estruturais são tão importantes como as de vedação, mas partem de outro tipo de análise. No tipo estrutural pode haver esforços de cisalhamento entre painéis, então, nesses casos, a ligação deve transmitir cisalhamento; se uma laje se comporta como diafragma em relação ao painel, então isso exige uma análise específica de ligações. Ao dimensionar as ligações devem ser considerados vários coeficientes de segurança, pensando no modo de falha, na consequência da falha, na manutenção e processo construtivo, por exemplo. Ou seja, prever o que acontecerá, em cada um desses elementos, quando a carga de ruptura é atingida”.
Freitas ainda destacou o papel da Abcic no desenvolvimento da norma de painéis, no que tange à produção e requisitos de inspeção e controle de qualidade e as contribuições expressivas, que foram trazidas pelo grupo de trabalho coordenado pela engenheira Íria.
Em termos de futuro, o coordenador da ABNT NBR 16475 avalia a normalização vai permitir que haja no mercado mais profissionais com conhecimento dos sistemas com painéis estruturais e não estruturais, maior disponibilidade de conexões, com redução de custos, desenvolvimento de projetos mais complexos, e evolução tecnológica. “Além disso, teremos mais conteúdo para revisar a norma, fazendo com que ela evolua”, finalizou.