INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA
Possibilidade da utilização do pré-fabricado de concreto em obras de portes distintos e finalidades variadas, atendendo projetos arquitetônicos ousados e diferenciados, reforçam a versatilidade do sistema construtivo, cujos resultados, segundo os arquitetos, são extremamente positivos para os atores envolvidos na obra e para o público final
Escola na Várzea Paulista, obra do escritório FGMF
Segundo Forte, a industrialização foi uma opção porque o escritório queria explorar as possibilidades de um sistema geralmente usado para fechamento de galpões como estrutura e vedação aparentes em uma casa de alto padrão. “Foi uma espécie de ensaio para realizar uma obra com alta velocidade e perverter a aparência industrial em outro contexto. Foi um projeto muito bem sucedido”, enfatiza.
Casa das pérgolas deslizantes, obra do escritório FGMF
Outro projeto do escritório FGMF que foi inscrito no Prêmio é o Edifício Corujas, um empreendimento comercial de alto padrão, situado na Vila Madalena, em São Paulo, que tinha como concepção a criação de um espaço de trabalho mais humanizado. A pré-fabricação de concreto foi escolhida, nesse caso, pela velocidade da construção e pela aparência. “Na prática, por conta do terreno difícil e impossibilidade de grua central, a velocidade desejada acabou se provando impossível”, pondera. O sistema foi utilizado de forma híbrida com o sistema metálico, deixado aparente, como parte da composição arquitetônica, mostrando que ele pode ser tão interessante quanto qualquer outro tipo de sistema.
Uma escola pública, em Várzea Paulista, município localizado próximo a Jundiaí, foi outro projeto citado por Fortes, que foi inteiramente realizada com o sistema pré-moldado, com estrutura aparente e jogos de recuo de vedação, vigas especiais para suporte de elementos vazados e detalhes diversos. “A estrutura é protagonista do projeto”, pontua. Segundo ele, essa experiência foi ótima e extremamente bem sucedida, e a escolha pelo sistema veio de uma demanda do Governo do Estado de São Paulo, em conjunto com todo um sistema que a Fundação para o Desenvolvimento Escolar (FDE), criou, envolvendo diversos arquitetos e projetistas.
Sede administrativa da Igreja Batista, obra de Aflalo/Gasperini Arquitetos
Parque da Cidade, obra de Aflalo/Gasperini Arquitetos (obra da capa)
Já Aflalo citou duas obras mais recentes projetadas com o pré-fabricado de concreto. Uma delas, o pequeno edifício administrativo e pedagógico da Igreja Batista do Morumbi recebeu o Prêmio Obra do Ano na categoria Pequenas Obras. “Utilizamos o sistema para escapar da lógica da obra convencional”, comenta. Já o outro projeto, que deve ser entregue ao final deste ano, é Parque da Cidade, complexo de mais de 200 mil m², situado na Marginal Pinheiros, em São Paulo. “Nesse projeto também a ideia foi fugir da lógica da obra convencional, mas sobretudo pela velocidade imprimida na obra com a industrialização”. (Confira a matéria com mais detalhes sobre parte dessa obra na página 26)
Dois projetos representativos são citados por Sophia: um grande Templo Ecumênico dentro da Universidade UNIVAP, com uma ocupação de 700 pessoas, além de uma escola para o Colégio Poliedro com 10 mil m², ambos construídos, no município de São José dos Campos, interior de São Paulo. Atualmente, uma das obras em andamento com o sistema construtivo é a Escola EAG, em São Paulo, com 6 mil m².
“A escolha do sistema industrializado é um esforço de todos, arquitetos, engenheiros, técnicos e mesmo dos representantes desse setor. Temos que demostrar aos clientes, muitas vezes leigos nesta matéria, as inúmeras vantagens do sistema industrializado, que acabam por convencê-los sem muita dificuldade. Seja em matéria de economia de meios, materiais ou de tempo, seja no quesito estética tudo tem colaborado para o crescimento dessa tecnologia”, salienta Sophia.
O escritório de Sidonio Porto, ao longo desses anos, aplicou de forma intensa e adequada a pré-fabricação em concreto e aço em algumas sedes para a Petrobras, em Vitória, duas em Macaé, e uma escola em São Gonçalo. O sistema foi aplicado de maneira total ou mista também em obras industriais, como por exemplo, para a Brastemp, em Rio Claro, Gessy Lever, em Pernambuco e Minas Gerais, Valeo e Flextronics, em Campinas e Sorocaba, Ipel, prêmio Rino Levi e tantas outras.
“Os benefícios do uso do pré-fabricado são marcantes e podem ser considerados em termos de rapidez, bom acabamento e lógica de produção, com canteiros de obra concebidos como apenas uma área de montagem, permitindo limpeza, segurança e sustentabilidade, exigidas em nosso tempo. A industrialização com amplo uso tecnológico será sempre o caminho adequado ao nosso tempo e será nosso foco, no escritório, onde o Arquiteto Marcio Porto tem levado à frente esta visão”, comenta Sidonio.
O arquiteto Márcio França Baptista de Oliveira, diretor da ARQ Projetos, também considera a pré-fabricação em concreto em seus projetos, tendo aplicado nas sedes de empresas, como a Marangoni, multinacional italiana, em Lagoa Santa, da Construtora Ápia, em Belo Horizonte, e da Transpés, em Betim. Todas as cidades estão localizadas em Minas Gerais. “Em todos esses casos, a opção pelo sistema foi motivada pela rapidez e pela industrialização de processos construtivos. Com isso, tivemos obras limpas que acabam refletindo uma arquitetura contemporânea com linhas sóbrias”.
Para ele, o resultado do uso da pré-fabricação é bom para todos os atores participantes da obra. “O cliente vê sua construção ser executada rapidamente e sem desperdícios. O construtor tem os seus processos industrializados, enquanto o escritório de projetos exprimir do pré-moldado todas as possibilidades arquitetônicas que ela sugere”, completa.