DE OLHO NO SETOR 1
A visão do arquiteto
O arquiteto Jayme Lago Mestieri, diretor da JLM Arquitetura, ministrou a primeira palestra da tarde, com o tema “A arquitetura, a industrialização da construção e a importância da pré-fabricação em concreto”. Já no início, o arquiteto pontuou que “sustentabilidade se define pelo impacto que um empreendimento gerará no bairro, pela necessidade de adequação da malha viária, entre outros aspectos, exigindo estudos que mostrem a possibilidade de redução desse impacto”. E acrescentou: “O conceito de pré-fabricados em concreto ajuda na adaptação do projeto e na previsibilidade de valores. Quanto mais entrar na área soft do projeto, melhor”.
Fazendo uso de projetos desenvolvidos pela empresa, Mestieri materializou o que definiu em sua fala inicial. O primeiro exemplo apresentado foi a Feira da Madrugada, que ocupa área de 230.000 m² em São Paulo, e conta com terminal de ônibus, shopping popular, deckpark e torre administrativa. A edificação permite o estacionamento de 350 ônibus, tem 2.700 vagas para carros e possui rampas de acesso pré-fabricadas.
Entre os destaques, foi detalhado o Central Park Shopping, na cidade paulista de Vargem Grande Paulista. Aqui o desafio, como explicou Mestieri, foi entrar “no projeto com o paliteiro já levantado. Mesmo assim, conseguimos, sem retrabalho, fazer ajustes com 70% da malha construída.”
Em fase final de obras, o Mauá Multiuso, compreendendo um terminal, um shopping e uma praça pública, soma 27.000 m² e utilizou o conceito industrializado para plugar na obra. Outros dois casos de sucesso em pré-fabricado em malha 10 x 8, respectivamente em São Paulo e Carapicuíba, também foram apresentados. Enquanto o Complexo Trimais (SP), reúne, em 130.000 m², um mercado, um shopping, um deckpark e torre corporativa; o Plaza Carapicuíba distribuiu, em 90.000 m², shopping center, hipermercado e deckpark lateral.
O arquiteto ainda apresentou soluções em brise com pré-fabricados, atendendo, assim, proposta do escritório de “agregar o concreto também na parte leve da obra”. Entre os exemplos, Mestieri citou um prédio, com a construção em andamento, montado com estrutura metálica, que terá fechamento em placas pré-fabricadas.
O olhar do projetista
“A engenharia estrutural e as contribuições para a industrialização e a pré-fabricação em concreto” foi o tema desenvolvido por Augusto Pedreira de Freitas, diretor da Pedreira Ônix, empresa de engenharia, especializada no desenvolvimento de projetos estruturais.
Entusiasta do uso de pré-moldados em concreto também em imóveis residenciais, Freitas reconhece que a prática “ainda engatinha. Proporcionalmente, em 1990, existiam mais casas com pré-fabricados do que hoje. Precisamos ver o que fazer para virar a chave da construção convencional para a pré-fabricada, para que essa técnica não seja somente para prédios comerciais e para infraestrutura. Também é importante nos questionarmos se estamos suficientemente amadurecidos para isso, qual o motivo de as experiências bem-sucedidas serem fatos isolados, quais as dificuldades para tornar a técnica uma alternativa real para os empreendimentos, entre outros pontos”.
O diretor da Pedreira Ônix coloca a utilização de pré-fabricados de concreto na área residencial como caminho para “resolver o déficit habitacional e a falta de mão de obra na construção civil, que não é devida ao excesso de obras, mas ao interesse do possível trabalhador. O jovem não quer mais trabalhar no setor, e a industrialização pode ser uma forma de atrair mão de obra mais qualificada.”
Outro ponto sinalizado por Freitas envolve a sustentabilidade que – garante ele – “deixou de ser um desejo e passou a ser necessidade. Há normas no Brasil para laje alveolar, parede de concreto e pré-moldado... A evolução da tecnologia permite fazer um painel de fachada com detalhes impossíveis de se fazer na construção convencional. Podemos começar com alguns elementos, pré-vigas, estacionamentos etc.”
À afirmação usual das pessoas de que o pré-fabricado é mais caro, Freitas contrapõe o fato de que “tem muito valor agregado, reduz despesas indiretas em função da tecnologia, reduz o custo com mão de obra e facilita a implantação de elementos como escadas, independe do clima, por isso reduz o tempo de obra”.
“É preciso quebrar paradigmas e a arquitetura trabalhar com a engenharia, formar times que saibam projetar em pré-fabricados, desenvolver fornecedores para o mercado residencial e projetistas que saibam projetar em pré-fabricados”, detalha ao conclamar o mercado. “O momento é agora. Não podemos depender do empreendedor para decidir, mas todos precisam estar envolvidos e alinhados no processo”.