ARTIGO TÉCNICO

Ygor Moriel Neuberger  (a)  https://orcid.org/0000-0003-4001-7248
Daniel de Lima Araújo  (b) https://orcid.org/0000-0002-6802-4637
Marcelo de Araújo Ferreira (a) https://orcid.org/0000-0001-5175-2171

(a) Universidade Federal de São Carlos - UFScar, Departamento de Engenharia Civil, São Carlos, São Paulo, Brasil
(b) Universidade Federal de Goiás - UFG, Escola de Engenharia Civil e Ambiental, Goiânia, Goiás, Brasil
 

Resumo
Este artigo discute o procedimento para análise estrutural e verificação da estabilidade global de edifícios de múltiplos pavimentos em concreto pré-moldado com ligações viga-pilar semirrígidas, em conformidade com a norma ABNT NBR 9062:2017. Para embasar a discussão, é apresentado o resultado da análise de um edifício pré-moldado com dez pavimentos, considerando pilares contínuos, lajes alveolares com efeito diafragma e ligações viga-pilar do tipo V. Os resultados evidenciam que a adequada representação das ligações semirrígidas altera a distribuição de momentos fletores, influencia os deslocamentos horizontais e a classificação da estrutura quanto à deslocabilidade. Também são discutidas recomendações de projeto e subsídios para uma modelagem mais realista, segura e economicamente eficiente de sistemas pré-moldados de múltiplos pavimentos.
Palavras-chave: Concreto pré-moldado, ligações semirrígidas, estabilidade global. 

1. Introdução
Do ponto de vista do projeto estrutural, o que fundamentalmente distingue uma estrutura em concreto pré-moldado em relação a uma estrutura em concreto moldado in loco é, inicialmente, a necessidade de verificação dos elementos pré-moldados nas etapas transitórias pós-produção até a fase final da montagem e, para a estrutura após a finalização da montagem, a consideração do efeito das ligações no comportamento global da estrutura. 
Embora exista uma tendência de idealizar no projeto as ligações com resistência à flexão como perfeitamente rígidas, Elliott et al. (2003) demonstraram que as ligações típicas viga-pilar pré-moldadas com armaduras de continuidade negativa com solidarização de segunda etapa in loco apresentam comportamento semirrígido, ocorrendo rotação relativa entre a extremidade da viga e a interface do pilar no apoio. As ligações semirrígidas ocasionam um aumento da flexibilidade da estrutura pré-moldada, alterando a distribuição de rigidez entre os elementos e ocasionando uma ‘redistribuição elástica’ dos esforços internos. Além disso, com o aumento dos deslocamentos globais de primeira ordem, tem-se o aumento dos efeitos globais de segunda ordem. Portanto, negligenciar as ligações semirrígidas na análise da estabilidade de pórticos pré-moldados com múltiplos pavimentos pode conduzir a uma situação contra a segurança. 
Segundo Ferreira, Elliot e Hasan (2010), diferente do critério de projeto de estruturas pré-moldadas em zonas sísmicas, onde as ligações viga-pilar são projetadas pelo critério resistência-ductilidade, no caso das zonas não sísmicas as ligações viga-pilar devem ser projetadas segundo o critério resistência-rigidez. Seguindo o mesmo critério adotado pela norma ABNT NBR 9062 (ABNT, 2017), a rigidez secante (Rsec) é a menor rigidez da relação momento-rotação da ligação viga-pilar obtida antes do início do escoamento das armaduras de continuidade. Os principais mecanismos de deformação que afetam a rigidez secante (Rsec) estão associados à configuração fissurada na região da ligação, ocorrendo escorregamentos nas armaduras ou das luvas rosqueadas nas posições fissuradas anterior ao início do escoamento das armaduras.
O fator de restrição está ligado ao conceito de fator de rigidez relativa que relaciona a rigidez equivalente da viga pré-moldada (EIsec/Lef) com a rigidez secante da ligação (Rsec), conforme a Equação , que depende da rigidez secante da viga pré-moldada (EI)sec e do vão efetivo entre os centros de giros nos apoios da viga L_ef.