Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 16 - abril de 2019

INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA

Concessionárias de rodovias descobrem os benefícios do pré-fabricado

Obras concluídas com maior rapidez, a custos competitivos e diminuição de desperdícios são algumas das vantagens que criam novas oportunidades para a construção industrializada de concreto na malha rodoviária do país


Outro exemplo da aplicação de pré-fabricado em passarela foi a construção de duas unidades que integram o VLT de Fortaleza-CE. As obras tiveram as estruturas pré-fabricadas fornecidas pela T&A Pré-fabricados e exigiram o desenvolvimento de fôrmas especialmente desenvolvidas para permitir dimensões esbeltas e mais leves, de maneira a atender as restrições de transporte e montagem no local. “Nesse projeto, as vigas tinham comprimentos que chegavam a 25 metros e pesavam cerca de 60 toneladas”, relata Aquiles Pontes, diretor da T&A. 
Além das fôrmas customizadas, Pontes adianta que foi utilizado concreto com alta resistência e módulos de elasticidade inicial, o que permitiu maior velocidade de produção e redução dos prazos de entrega. “A pré-fabricação em si garante uma enorme redução no tempo das intervenções que são necessárias nesse tipo de obra”, esclarece o executivo da T&A. Acrescenta também que, em razão da dificuldade na movimentação das peças, foi elaborado um minucioso plano de transporte e montagem que envolveu, além da gestora da obra, a autarquia que cuida do trânsito de Fortaleza e exigiu o uso de guindastes de grande porte. 

Ponte sobre Rio Acaray – Paraguai 
Cliente: Consórcio Bella Vista (Vial Sur – Construcap – CCC e MM)
Volume de concreto: 750 m3
Tipo de peças utilizadas: longarinas, transversinas, pilares, pré lajes
Projeto estrutural: RKS Engenharia de Estruturas
Fornecedora das estruturas pré-fabricadas de concreto: Rotesma
Obra executada de julho de 2016 a dezembro de 2017

Duas pontes no Rio Acary, no Paraguai, levaram estruturas pré-fabricadas brasileiras. Foram utilizadas vigas transversais ao longo dos 25 metros de comprimento do vão

Na avaliação de Pontes, as principais vantagens do uso de pré-fabricado nesse tipo de obra são: excelente qualidade final das estruturas, em razão de as peças serem produzidas em ambiente fabril adequado e não em canteiros improvisados; garantia de preço fechado; facilidade na gestão geral da obra; e rapidez na montagem com consequente menor interdição do fluxo de veículos na via. “Em razão de todos esses benefícios, notamos boa aceitação por parte das concessionárias e administradoras de rodovias pelo pré-fabricado de concreto”, conclui.
Murilo Cassol, presidente do Conselho Administrativo do Grupo Cassol vai na mesma linha e destaca outro grande benefício da industrialização em obras de artes rodoviárias, que é a possibilidade de executar, de forma concomitante, várias fases da obra. Segundo ele, enquanto no canteiro de obras estão sendo executadas as etapas de terraplenagem e as fundações, na fábrica, as vigas e demais estruturas previstas no projeto estão sendo concretadas e armazenadas. “Esta redução de atividades no canteiro resulta em outras vantagens, como a redução dos custos indiretos, um menor número de funcionários expostos aos riscos inerentes a esse tipo de obra, eliminação de desperdícios de insumos e material em geral, melhoria da qualidade das peças e, no final, redução do custo total da obra”, observa Cassol. 
Para Antonoaldo Trancoso Neves, diretor da Tranenge Construções, as concessionárias e/ou administradoras de rodovias sempre incentivam e buscam soluções com elementos estruturais pré-fabricados para suas obras de arte especiais, levando em conta as vantagens de segurança, impacto ambiental, qualidade, prazo e principalmente a significativa redução dos efetivos alocados nos canteiros de obras, resultando em menor exposição de trabalhadores e menores riscos de acidentes. “Do ponto de vista socioambiental, o uso de elementos estruturais pré-fabricados de concreto em obras de arte especiais em rodovias reduz de forma expressiva o impacto nos locais de implantação”. 
Cassol acrescenta ainda que as estruturas pré-fabricadas, por serem produzidas em ambiente industrial e transportadas ao local da obra, além de gerarem menor impacto no entorno, especialmente quando há necessidade de liberação parcial de tráfego e também execução com a rodovia em operação, elas são produzidas dentro de condições ideias, não sofrendo com variações climáticas, diferentemente de uma produção “in loco” mesmo que pré-moldada. “Além de tais aspectos, as estruturas se autotestam devido ao rígido controle de resistência para liberação das peças nas etapas iniciais transitórias como liberação das formas, içamento, transporte e montagem”, explica.
Em boa medida, a qualidade final das peças de pré-fabricados é alcançada em razão de todos os cuidados relacionados por Cassol terem sido observados. O ponto é lembrado também pelo engenheiro Robson Sanagiotto, da Rotesma. Ele descreve, por exemplo, do uso de concreto com fck de 50 MPa na produção de peças que foram utilizadas na construção de um viaduto sobre a BR-277 na frente de uma unidade da Cooperativa Agroindustrial Agrária, próxima do município paranaense de Guarapuava. “Além do concreto de 50 MPa, utilizamos também  o concreto  auto-adensável com rígido controle de qualidade e protensão  controlada ”, comenta Sangiotto. 
Foi a opção pelo uso de pré-fabricado de concreto que, segundo o engenheiro da Rotesma, viabilizou a execução do viaduto sobre a BR-277. “O projeto previa um vão livre de 34,4 metros, com largura de 10 metros e nosso grande desafio foi montar as longarinas do viaduto sem interromper o tráfego na rodovia”, explica Sangiotto, acrescentando que isso só foi possível devido ao uso de pré-fabricado. “Após as concessionárias observarem a vantajosa redução de tempo de execução da obra e a garantia de qualidade das peças estruturais, muitas estão procurando o pré-fabricado como sendo a melhor solução”, conclui.
E a experiência com o uso da construção industrializada de concreto no segmento de rodovias já levou a própria Rotesma a romper fronteiras, pois ela já vem executando obras desse tipo no Paraguai. “Como no Paraguai não existe normalização própria, são seguidas as normas norte-americanas. Neste quesito, o Brasil está à frente, pois sempre trabalhou arduamente para desenvolver suas próprias normas, tendo como referência as normas americanas e europeias, salvaguardando suas peculiaridades e também valorizando a expertise de seus profissionais e de suas questões”, afirma José Antonio Tessari, presidente da Rotesma. 
Nesse sentido, segundo Tessari, que é também presidente do Conselho Estratégico da ABCIC, a entidade tem atuado na área da normalização no âmbito nacional, através da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e no âmbito internacional, através da fib (Federação Internacional do Concreto). “Isso é relevante para o nosso setor”, pontua. 
Por outro lado, de acordo com ele, do ponto de vista de apoio ao desenvolvimento das soluções industrializadas, o Paraguai não penaliza a indústria, uma vez que não há diferença tributária entre executar no canteiro ou trazer da indústria. “Precisamos urgente da reforma tributária e que a construção civil tenha um protagonismo neste tema, não se trata de uma questão setorial apenas, mas do desenvolvimento do país em termos de competitividade e especialmente aumento de produtividade. Já avançamos com a reforma trabalhista, mas precisamos efetivamente quebrar os velhos paradigmas do passado que penalizaram o pleno desenvolvimento da construção civil no Brasil e de sua industrialização, imputando a ela o estigma de absorver mão de obra que não necessariamente precisava ser especializada. Não somente como empresário, mas como presidente do conselho estratégico da Abcic, entidade que tem atuado exaustivamente neste sentido, vejo nesta matéria a importância de trazer também estes aspectos à tona”.
No final de 2017, a empresa auxiliou nas obras de duplicação de duas pontes sobre o rio Acaray, próximo a Ciudad del Este. Assim como ocorreu no caso do viaduto no Paraná, na ponte sobre o rio Acaray o maior desafio foi no transporte e montagem das peças, algumas pensando aproximadamente 40 toneladas. Além de pontes rolantes na fábrica da Rotesma, foram necessários guindastes especiais para tirar as estruturas das fôrmas e colocar nas carretas. 
Segundo Tessari, para melhor utilização da ponte, foi necessário produzir estruturas mais esbeltas. “Para tanto optou-se pelo tabuleiro contínuo, ou seja, as longarinas e a laje com momentos positivos nos meios dos vãos e negativos sobre os apoios, formando um sistema hiperestático”, detalha. Foram utilizadas vigas transversais ao longo dos 25 metros de comprimento do vão.
De acordo com ele, o uso de pré-fabricado de concreto em ponte e viadutos tem evoluído junto com a disseminação de inovações tecnológicas nas áreas de protensão, dos concretos de alto desempenho, dentre outros avanços. “Colabora também, uma maior disponibilidade de equipamentos de transporte e de içamento com elevada capacidade de carga”, acrescenta. 
Outro fator que, na avaliação de alguns especialistas, poderia estimular a maior utilização de pré-fabricado em obras de infraestrutura rodoviária seria a padronização de vigas e demais peças empregadas nessas construções. Murilo Cassol lembra de um modelo americano do estado da Flórida, onde as tipologias de obras de arte estão já definidas, criando, segundo ele, um padrão de peças que a indústria de pré-fabricado está apta a fornecer com rapidez, visando maior agilidade na conclusão da obra e, consequentemente, menor impacto sobre o trânsito. “Desta maneira, ao serem licitadas as obras de arte, as indústrias já têm as peças prontas, podendo gerar o planejamento otimizado da obra”, comenta Cassol. 
O presidente do Conselho Administrativo do Grupo Cassol salienta ainda que é necessário que, no Brasil, se faça um esforço conjunto dos órgãos governamentais e das empresas responsáveis pelas rodovias uma padronização das peças para, dessa forma, reduzir os custos e agilizar as obras. “Assim, as empresas terão mais segurança em investir em equipamentos, fôrmas e inovação tecnológica para atender este mercado”. 
Antonoaldo Trancoso Neves, diretor da Tranenge Construções, acrescenta ainda que para ocorrer um maior uso do pré-fabricado no segmento de infraestrutura viária faz-se necessário um constante diálogo entre os empreendedores contratantes, projetistas, construtoras e as indústrias. “Temos que aproveitar as oportunidades do mercado, uma vez que a expectativa é que haja um novo ciclo de  significativos investimentos  na infraestrutura viária,  tão logo sejam  equacionados  os desequilíbrios dos orçamentos públicos, destravadas as concessões com problemas contratuais, licitadas  as  novas concessões previstas e aprovados financiamentos pelos  investidores e agentes financeiros que acreditam no crescimento econômico do País com novos rumos políticos”, conclui.

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