DE OLHO NO SETOR 3
Na América Latina, essa percepção ainda é mais acentuada porque temos um grau elevado de mão de obra na construção, já que 95% das obras são realizadas em sistema convencional. No Brasil, esse percentual é de aproximadamente 90%”, explicou.
Neste contexto, há um potencial enorme para a industrialização seja na América Latina, seja no Brasil. “As construtoras evoluíram nos últimos anos racionalizando seus processos construtivos, e o caminho a seguir é a industrialização, que vai ter cada vez mais protagonismo de forma isolada em soluções integrais com um único sistema ou aberta em integração com outros sistemas construtivos também industrializados ou convencionais”, acrescentou Íria.
Ela recordou que, em 2016, foi realizada a primeira versão do Planejamento Estratégico da Abcic, que abrangeu a evolução tecnológica dos materiais, como o concreto, os processos de fabricação e montagem, e as questões de projeto e gestão. Em 2023, um novo Planejamento Estratégico foi divulgado, com destaque para o Ultra-High Performance Concrete que contribui para uma elevada vida útil e permite um perfil aproximado do aço, além da robotização, confiabilidade e técnicas avançadas.
Outro ponto tratado por Íria foi o relatório da McKinsey, “The Next Normal in Construction”, que apontou que a construção tem menor crescimento em quesitos como produtividade e aplicação de recursos da Indústria 4.0 em relação aos demais setores da economia, dificultando a adoção de ferramentas mais inovadoras, e maior padronização. Atualmente, o setor precisa de maior coordenação modular, variação de tipologia e um ciclo aberto, pois em ciclos fechados os custos são passados para outras cadeia e a lucratividade acontece apenas em uma etapa.
Durante a apresentação, a presidente executiva da Abcic trouxe informações sobre as ações institucionais da Abcic na área, incluindo as Missões Técnicas (sete), o Selo de Excelência Abcic, o arcabouço normativo, a integração com entidades nacionais e internacionais, os diversos eventos promovidos nas últimas duas décadas e o Prêmio Obra do Ano. “Tivemos uma atuação intensa para se ter um arcabouço normativo para o setor, com a norma mãe ABNT NBR 9062 e as demais normas específicas dos elementos, e para incluir parâmetros de industrialização da NR-18. É muito importante ter um comitê permanente de análise da normalização” disse Íria, que também afirmou a relevância dos trabalhos realizados pelo IBRACON para elaboração das práticas recomendadas, incluindo a ABNT NBR 9062, como ocorre nos comitês mistos CT-301 e no CT-304, com Abece e Abcic respectivamente.
Na industrialização, a integridade da estrutura e a segurança das pessoas é um tema fundamental, por isso a Abcic lançou o Manual de Montagem das Estruturas Pré-Moldadas de Concreto, que teve a validação técnica de entidades, como a ABECE, que analisou o capítulo de projeto, que interfere na montagem, principalmente no que tange as ligações e estabilidade global.
O Roadmap do Global Cement and Concrete Association (GCCA) foi também citado por Íria em sua palestra, pois a eficiência do projeto e da construção é um ponto central para redução de até 22% das emissões de carbono em 2030. Falou ainda sobre a visita e palestras de engenheiros internacionais, integrantes das Comissões da International Federation of Structural Concrete (fib), como Arnold Van Acker (Bélgica, in memorian), Hugo Corres (Espanha), Kim Elliott (Reino Unido), Kaare K. B. Dahl (Dinamarca), David Fernandez-Ordóñez (Espanha), entre outros. Por fim, mencionou a importância da integração das empresas com as universidades.
Íria Doniak (Abcic) trouxe uma abordagem de contextualização de cenários que envolvem a transformação que vem sendo vivenciada pela construção civil