PONTO DE VISTA
Como avalia o setor da construção em 2025?
Minha avaliação é positiva. Apesar dos inúmeros desafios enfrentados pelo setor — como as incertezas políticas, tanto internas quanto externas, e os juros elevados, que atualmente atingem o patamar mais alto desde 2006 — a construção tem demonstrado resiliência. Mesmo diante do desempenho negativo do PIB do setor nos dois primeiros trimestres do ano, mantemos uma perspectiva de crescimento ao longo de 2025.
O mercado de trabalho formal da construção apresenta crescimento de 2,9% no estoque de empregos nos últimos 12 meses. Esse movimento é acompanhado por uma elevação no consumo de insumos estratégicos, como o cimento, com aumento de 3,4%, e o aço longo, com aumento de 4,6%.
No setor imobiliário, observamos avanços significativos nos lançamentos e nas vendas, tanto no segmento de habitação popular quanto no mercado de médio padrão.
A construção pesada vive um momento de perspectivas positivas, impulsionado pelo aumento dos investimentos privados em áreas como a logística e o saneamento. Esse avanço é resultado do amadurecimento dos modelos de concessões e de parcerias público-privadas (PPPs), que têm atraído novos financiadores nacionais e empresas estrangeiras interessadas em atuar no Brasil.
Em resumo, mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador, o setor da construção segue se adaptando e encontrando caminhos para crescer.
Quais caminhos o setor deve seguir para continuar contribuindo para o desenvolvimento do país?
É necessária uma atuação coordenada entre o setor público e o privado para destravar o potencial da construção como vetor de desenvolvimento econômico e social.
Do ponto de vista da iniciativa privada, para que possamos atender às demandas crescentes por obras de infraestrutura e de habitação, necessárias para combater o déficit de cerca de 6 milhões de moradias no país, é imprescindível que as empresas do setor invistam em inovação. Tecnologias para digitalizar, além de ampliar a industrialização na construção, são fundamentais para elevar a qualidade das obras, aumentar a produtividade e, sobretudo, atrair e reter mão de obra qualificada, que já é um importante gargalo.
Por outro lado, cabe ao poder público promover ações estruturantes para melhorar o ambiente de negócios na construção, eliminar entraves burocráticos, especialmente no licenciamento de obras. Estudo encomendado pela FIESP em 2023 aponta que a principal dificuldade enfrentada pelas empresas é a falta de padronização entre os municípios e a ausência de integração de dados. Essa burocracia gera atrasos e insegurança jurídica, com impacto econômico estimado em R$ 59,1 bilhões entre 2023 e 2025. Além disso, é essencial que sejam criados mecanismos eficazes para facilitar o investimento privado.
Qual a contribuição, nesse sentido, do Deconcic?
A atuação do Departamento da Indústria da Construção e Mineração - Deconcic da Fiesp, em parceria com as entidades representativas da cadeia produtiva da construção, tem sido estratégica para impulsionar a produtividade, a qualidade e a sustentabilidade do setor. Por meio de uma agenda propositiva, buscamos, junto ao poder público e à iniciativa privada, a criação de um ambiente de negócios mais atrativo para investimentos em obras de infraestrutura e desenvolvimento urbano.
Destaco o ConstruBusiness – Congresso Brasileiro da Construção, que chega à sua 15ª edição como um dos principais fóruns de debate sobre políticas públicas para o setor. O evento reúne diagnósticos, projeções e propostas concretas que contribuem para o avanço da construção no país.
A articulação do Deconcic com as diversas entidades representativas do setor, têm gerado conquistas relevantes, como a modernização de programas habitacionais e de infraestrutura (Minha Casa, Minha Vida e PAC), avanços na Nova Lei de Licitações, a adoção do BIM em obras públicas, a regulamentação da Lei do Distrato e a criação de novas alternativas de financiamento, como a Letra Imobiliária Garantida (LIG).
Esses resultados refletem a força da união do setor e o compromisso com um desenvolvimento mais eficiente, inovador e sustentável da construção brasileira.