DE OLHO NO SETOR 2
Ela retratou ainda a importância de se ter uma cultura de industrialização, pois existem diversos desafios a serem enfrentados pela construção, incluindo as mudanças no mercado, sustentabilidade e escassez de mão de obra, que precisam estar alinhados com a aplicação de tecnologia de ponta, digitalização, aprimoramento de processos e produtos. “O Roadmap do Global Cement and Concrete Association (GCCA) demonstrou que quando se trata de descarbonização o primeiro ponto a ser trabalhado é a eficiência de projeto e construção”, destacou Íria. “A industrialização requer uma mudança de mentalidade”, acrescentou.
Na América Latina, de acordo com Íria, cerca de 95% das construções de empreendimentos utilizam o método convencional, principalmente, porque a mão de obra era abundante e tinha um custo acessível. Contudo, esse não é mais o panorama atual. “Qual é o mix de soluções industrializadas que pode ser aplicada em cada obra? A resposta vai depender do projeto e qual a estratégia para se definir os sistemas”, esclareceu. Sobre a pré-fabricação, lembrou que o BIM foi adotado rapidamente pela indústria, e as peças têm sido produzidas com materiais mais avançados, devido à evolução da tecnologia do concreto e do aço, e isso é fundamental para a sustentabilidade porque os elementos produzidos podem ser mais leves e têm impacto na logística até o canteiro.
Uma pesquisa da Abcic mostrou que o Ultra-High Performance Concrete (UHPC) tem sido implementado pela indústria brasileira. Atualmente, 4,9% dos associados da Abcic utiliza a tecnologia, enquanto 56,1% possuem estudos para seu desenvolvimento. Íria também recordou que, em uma entrevista para a Revista Techné, em 2008, informou que a pré-fabricação de concreto vai crescer para cima. “É o que vivemos hoje”, finalizou.
Luiz Augusto Milano, presidente da Matec Engenharia, trouxe o case do Parque da Cidade, reforçando que foi necessário integrar inteligências para alcançar o objetivo de a obra estar pronta em 26 meses, respeitando as exigências contratuais e o CAPEX. “Conversei com o arquiteto Luiz Aflalo que não seria possível construir a obra em moldado in-loco, devido às questões de prazo, investimento e escoramento”, afirmou.
Luiz Augusto Milano, da Matec Engenharia: "A integração entre os grupos de engenharia que permitiu viabilizar a Gleba B do Parque da
A partir desse ponto, iniciou-se uma grande discussão junto ao engenheiro projetista e a cadeia de fornecedores para detalhar como seria a produção, execução, logística e montagem da obra, que foi construída com um mix de sistemas construtivos, incluindo a pré-fabricação de concreto e o moldado in-loco. “Para uma obra com essa complexidade, os fornecedores precisam ter uma área de engenharia muito forte”, ponderou Milano.
Com duas apresentações no evento, Íria contextualizou o setor no país e no mundo e ressaltou a importância da industrialização para a sustentabilidade, para os
Foram sessenta dias de trabalho em conjunto para encontrar soluções para a grande quantidade de rochas do terreno, que exigiu um core mais alto, com pilares moldados in-loco e vigas e lajes trepantes; para o terreno com pouco espaço, que inviabilizava o estoque de peças, demandou a entrega de elementos diretamente para a montagem. A obra utilizou oito gruas, que trabalhavam ininterruptamente, enquanto os materiais chegavam após às 21h. “Tudo foi previsto e planejado. Essa integração entre os grupos de engenharia que permitiu viabilizar a obra”, salientou Milano.
Em sua apresentação, Milano ainda refletiu sobre o que tem ocorrido no mercado de trabalho no setor da construção, com a falta de capital humano em diversas áreas, não apenas no canteiro de obras. “Temos tecnologia e cadeia de fornecedores, mas estou preocupado com a formação, capacitação e especialização de profissionais”, explanou. Ele ainda comentou sobre a inteligência artificial, que deve chegar ao mercado rapidamente, exigindo muitas mudanças no setor da construção.