PONTO DE VISTA
Quando se trata de mudar a cultura produtiva de um país, a atividade associativa é fundamental, pois empresas somam forças para ampliar o mercado. É uma colaboração onde todos ganham. Nesse sentido, a ABCIC tem cumprido um papel fundamental no tema há décadas. Iniciativas como o Prêmio Obra do Ano, o Selo de Excelência ABCIC, que sempre apresenta evoluções em relação aos demais mercados, a articulação com órgãos do estado, a formação de recursos humanos, são excelentes. A participação internacional tem sido destaque, pois permite aprender com as experiências boas e ruins dos outros.
A ABCIC tem sido uma das lideranças mais ativas na questão ambiental da construção, e tenho certeza que vai ter um papel fundamental no desenho da estratégia de construção de baixo carbono para a construção brasileira, para qual os próximos anos serão cruciais e vão definir a competividade do setores.
O trabalho em conjunto entre academia e indústria é essencial para o desenvolvimento tecnológico em qualquer atividade econômica. Poderia comentar sobre essa questão, uma vez que o Sr. lidera uma série de iniciativas nesse contexto?
Para que as ideias e conceitos expressas em artigo, tese, dissertação tragam benefícios sociais e ambientais, é necessário que a sociedade se aproprie dos seus resultados e os coloque em prática. Na engenharia civil, significa que os conhecimentos sejam transformados em soluções tecnológicas, em um processo de evolução que exige colaboração sistemática e formal. É importante também uma discussão permanente entre academia e a indústria para identificar a agenda do futuro, para nortear a definição das próximas pesquisas básicas, que, se derem certo, no futuro, poderão chegar a indústria beneficiando a sociedade. Isso não significa que a universidade só fará pesquisas que a indústria quer até porque é preciso experimentar novas ideias. No nosso grupo, mantemos o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (CEMtec), dedicado a avanços básicos do conhecimento na área de materiais cimentícios. Estamos, entre outras coisas, desenvolvendo nanopartículas ativas, capazes de mudar de geometria. Esperamos que muitas destas ideias novas possam chegar ao mercado, pois temos ideia dos problemas que elas poderão resolver. Mas, antes de fazer parceria com empresas, precisamos de dados convincentes do funcionamento e da competitividade da tecnologia.
Desse modo, nosso principal desafio é como criar pontes entre a indústria e as empresas. Na minha experiência, a participação e a colaboração com associações é um bom ponto de partida. Mas, para a inovação, precisamos ter empresas de diferentes setores (e vinculadas a diferentes associações) trabalhando juntas, encadeadas. Assim, precisamos desenvolver novas formas de colaboração. Neste momento, estamos experimentando o modelo de redes ou ambientes cooperativos de inovação, como o CICS, a Aliança da Construção Modular e o hubIC. As cátedras, que trazem professores convidados que oxigenam a USP e criam ambiente de colaboração, são outro modelo interessante. Nossa cátedra com a ArcelorMittal, Construindo o Amanhã, dedicada a imaginar um novo futuro, tem sido fundamental para nosso grupo e, espero, para a empresa. Estamos aprendendo muito. Mas comparado com o mundo mais desenvolvido, ainda engatinhamos. Do meu ponto de vista, este é um tópico crucial para o futuro do país, que depende da inovação.