PROJETANDO COM PRÉ-FABRICADO
Após o sucesso obtido nas Olimpíadas 2016, no Rio de Janeiro, na Copa de 2014 e também nos Jogos Pan-Americano de 2007, o sistema construtivo está consolidado como alternativa eficiente na construção e reforma de estádios e arenas multiusos, e mostra sua adaptabilidade para atender novos projetos inovadores e cronogramas ousados
Na avaliação do engenheiro Fernando Stucchi, da EGT Engenharia e professor da Politécnica da Universidade de São Paulo, o pré-fabricado entra como um aliado ao imprimir velocidade e qualidade estrutural às construções. Ele também comentou em entrevista ao Anuário da ABCIC que as arenas esportivas requerem um grande volume e homogeneidade do concreto, o que exige controle das linhas de produção e a aferição no concreto de solidarização na obra. O controle da produção dentro da indústria ou em canteiro somado à expertise da indústria são fundamentais.
Quanto à estrutura mista – pré-fabricados de concreto e cobertura metálica -, Stucchi explicou que a estrutura metálica fica toda apoiada sobre o pré-fabricado de concreto, exercendo uma carga alta. “As coberturas são balanços enormes, que avançam por cima da arquibancada, mas cujo apoio fica todo atrás, no começo da estrutura de concreto”, disse. Desse modo, quando a cobertura está em balanço ela fica engastada no concreto e, de acordo com as variações climáticas como sol e vento, ocorre o seu alongamento. “Por isso, a fixação das coberturas não pode ser feita somente com pontos fixos, sendo necessário a fixação de alguns pontos, deixando outros livres para que eles se ajustem de acordo com o clima”.
Stucchi foi o responsável, juntamente com a sua equipe pelos projetos da Arena de Pernambuco (Recife), pela Arena do Grêmio (Porto Alegre), Arena Corinthians (São Paulo) em conjunto com a FHECOR do Brasil, Arena Pantanal (Cuiabá) em conjunto com a Pasqua&Graziano. Esteve também presente na realização do Controle de Qualidade de Projeto (CQP) da Arena Fonte Nova (Salvador).
No caso dos Jogos Olímpicos, para atender as exigências e o cronograma determinados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em grande parte das obras, optou-se pelo uso de estrutura pré-fabricada de concreto, aplicada totalmente ou de forma consorciada com outros materiais e também com sistemas construtivos convencionais.
Um desafio inédito para a construção das arenas foi contemplar no projeto uma estrutura capaz de suportar um atentado terrorista provocado por uma explosão. Para atender essa determinação, foi necessário projetar uma estrutura pré-fabricada com um grau de engastamento viga x pilar capaz de absorver, nestas ligações, os momentos fletores positivos e negativos, bem como os momentos torsores, os esforços axiais e os esforços cisalhantes, sendo dotada de nós extremamente rígidos que em nada devem a uma estrutura convencional, por exemplo. “A chave do projeto é que a estrutura só pode entrar em colapso após um tempo para que as pessoas sejam retiradas do local”, disse o engenheiro Luis Casagrande, que foi o responsável técnico pelo projeto estrutural do Velódromo, das Arenas Cariocas 1, 2 e 3 e do Centro Olímpico Aquático, à revista Industrializar em Concreto.
No caso do Centro Olímpico de Tênis, o primeiro desafio foi a adaptação do projeto para o pré-fabricado, pois o original foi concebido na Alemanha e previa estrutura moldada no local, seguido pela geometria circular da estrutura, que demandou planejamento para garantir sua montagem sem contratempos, e pelos pilares externos serem totalmente inclinados para fora. Já as três Arenas Cariocas também tinham formas arredondas, o que levou o projeto a não ter repetitividade de peças.
Em relação ao Velódromo, uma inovação foi a colocação dos degraus das arquibancadas esconsos, analisados dinamicamente e com terminação semirrígida nos apoios, enquanto na Arena de Handebol, foi desenvolvido bancos especiais necessários para se fazer o sistema de ligação com a estrutura metálica.
Visão panorâmica da Arena MRV que demandou ensaios de túnel de vento para estudar o comportamento das estruturas