Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 36 - dezembro de 2025

DE OLHO NO SETOR

Seminário da Abcic e fib no 66º Congresso Brasileiro do Concreto reforça a importância da sustentabilidade e da tecnologia para a engenharia global

Marcelo Melo: "O ponto de partida foi o CEB Bulletin 144, que serviu de referência para o desenvolvimento dos exemplos, os quais serão replicados e adaptados conforme a evolução do projeto."

Exemplos práticos MC 2020
A fib está desenvolvendo uma publicação com exemplos práticos sobre o Model Code 2020 (MC2020). A iniciativa do Task Group - TG 10.3 é criar um manual técnico e detalhado com aplicações tangíveis voltadas a engenheiros projetistas de estruturas, incluindo cálculos, equações, comentários de uso e especificações completas, a fim de garantir clareza, evitar ambiguidades, facilitar o uso prático e aplicabilidade dos conceitos.
Segundo o engenheiro Marcelo Melo, chair do fib Young Members e professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o trabalho está estruturado em cinco grupos de trabalho (Working Groups – WG), cada um dedicado a explorar tópicos específicos. O grupo dedicado ao ciclo de vida foi criado após a análise dos primeiros exemplos, o que permitiu uma avaliação alinhada à metodologia proposta. “O ponto de partida foi o CEB Bulletin 144, que serviu de referência para o desenvolvimento dos exemplos, os quais serão replicados e adaptados conforme a evolução do projeto”, disse.
O WG1, responsável pelo projeto geral, conta com a supervisão do engenheiro Fernando Stucchi. Um dos exemplos analisados, datado de 1978, destaca diferenças significativas em relação à época atual, como o uso de tabelas de combinação de ações para cargas permanentes e envelopes de ações para avaliação de resultados. Também foram discutidos parâmetros de projeto distintos para avaliar versões finais, considerando cargas desequilibradas e a necessidade de continuidade no desenvolvimento dos exemplos.

Sylvia Kessler: "Projetar estruturas de concreto para durar mais de 50 anos exige reflexão sobre a durabilidade desde a concepção do projeto."


O WG2, voltado para a avaliação de estruturas existentes, concentra-se em exemplos amplamente utilizados na prática. A proposta é aplicar os conceitos do MC2020 para avaliar o desempenho, a durabilidade e a segurança de obras submetidas a inspeção, manutenção ou reabilitação. Já o grupo (WG3) dedicado ao projeto de concreto reforçado com fibras explora a durabilidade e análise desse tipo de material, identificando limitações e possibilidades previstas no código. Um dos exemplos aborda uma peça com 80 cm de profundidade, ressaltando a importância de avaliar diferentes condições de uso. 
Com a recente publicação de normas brasileiras sobre reforços não metálicos, o WG4 investiga como os polímeros reforçados com fibras podem ser aplicados em estruturas de concreto. A fib incorporou diretrizes específicas sobre o comportamento desses materiais, especialmente na área de compressão. Apesar de apresentarem maior resistência à tração, o módulo de elasticidade reduzido limita o aproveitamento total da força, sendo importante verificar os estados-limite de serviço (SLS) antes e depois da análise do estado-limite último (ULS), principalmente devido às fissuras.
O WG5 dedica-se ao estudo de agregados reciclados, avaliando diferentes materiais, níveis de umidade e efeitos sobre as propriedades do concreto. Os estudos têm mostrado que a substituição parcial de agregados naturais por agregados reciclados não altera significativamente o comportamento em ULS, embora influencie fatores como a retração e a fluência. 

Durabilidade no concreto
 Já Sylvia Kessler, professora na Universidade das Forças Armadas de Hamburgo, avaliou a importância da durabilidade e da sustentabilidade no ciclo de vida dos ativos de infraestrutura. “Projetar estruturas de concreto para durar mais de 50 anos exige reflexão sobre a durabilidade desde a concepção do projeto. A preocupação com a sustentabilidade cresce e deve ser considerada em todas as fases, incluindo a reciclagem e a demolição”, afirmou. Embora durabilidade e sustentabilidade estejam relacionadas, para Sylvia, os conceitos não são sinônimos. “É fundamental considerar reparos e métodos para prolongar a vida útil, além de avaliar o impacto ambiental ao longo do ciclo de vida. Caso contrário, sem planejamento, o projeto pode resultar em uma carga elevada de carbono”, complementou.
Na Alemanha, por exemplo, a abordagem da norma é prescritiva, baseada na seleção da composição do concreto e na análise de fatores como carbonatação, ação de cloro e água, corrosão, ataques químicos e mecânicos, e efeitos do gelo — este último, menos relevante para o Brasil. No entanto, de acordo com Sylvia, essas normas não levam em conta ambientes particularmente agressivos, o uso de materiais inovadores, a vida útil e a confiabilidade, e a impossibilidade de avaliar estruturas existentes, além da escolha de material e parâmetros geométricos, que são aplicados a uma ampla gama de situações de projeto. “A abordagem prescritiva atual não é sustentável”, pontuou.

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