DE OLHO NO SETOR

Em sua avaliação, a adoção de metodologias probabilísticas pode aprimorar a estimativa da durabilidade. Os Boletins 34 e 76 da fib são manuais que contribuem para avaliar as estruturas expostas ao cloro e para comparar o desempenho de materiais diante desse tipo de elemento químico. Nessa abordagem, é possível equilibrar durabilidade e sustentabilidade, considerando o potencial de aquecimento global e outros indicadores ambientais.
Para a professora alemã, o conceito de “lab-performance” deve ser adotado, com definição de classes de exposição, vida útil e resistência, permitindo composições de concreto específicas para cada cenário. Isso facilita decisões sustentáveis e duráveis, avaliando o desempenho por meio da análise do ciclo de vida (ACV). “O ponto de partida deve ser a definição de metas de sustentabilidade, abrangendo nível de exposição, vida útil e classe de resistência, com revisão constante do projeto estrutural e da avaliação ambiental”, comentou.
O novo Eurocode já prevê maior flexibilidade no uso de aços de alta resistência à corrosão e de sistemas de proteção catódica desde o início dos projetos. Empresas de infraestrutura têm adotado essas soluções, promovendo ciclos convencionais de reparo e comparando indicadores globais de crescimento, resíduos e emissões para avaliar a sustentabilidade e confiabilidade das estruturas. “A discussão sobre indicadores econômicos e ambientais continua avançando, com estudos de caso e avaliações de ciclo de vida evidenciando que as opções mais sustentáveis nem sempre são as mais óbvias — é necessário analisar profundamente os cálculos e as metodologias”, finalizou.
A palestra de Katalin Kopecskó, professora na Universidade de Tecnologia e Economia de Budapeste, trouxe seis casos que demonstram que a falta de durabilidade pode causar sérios problemas econômico-financeiros, sociais e ambientais.
O primeiro caso foi de uma área industrial na Hungria, em 1985, em que uma fábrica iniciou operações com o uso de dois tipos de escória para a fabricação de produtos. Esses resíduos foram empregados em 23 vilarejos, afetando mais de 150 casas, por meio de uma reação química que comprometia a durabilidade, levando à demolição de todos os prédios ameaçados. “Testes químicos revelaram que o óxido de magnésio, ao contrário do óxido de cálcio, apresenta expansão lenta e perigosa. Além disso, a instabilidade da marcassita e a formação de gipsita devido à oxidação contribuíram para a desintegração das estruturas”, detalhou Katalin.
A deterioração de elementos pré-fabricados de concreto foi observada após apenas um ano de uso, acelerada pelo inverno e evidenciada pelo surgimento de pedras na superfície. De acordo com Katalin, as análises microscópicas revelaram que as amostras apresentavam colorações distintas, indicando variações na mistura do concreto em relação ao projeto original. “Fissuras microscópicas com partículas de dolomita e carbonatos de cálcio indicaram uma reação álcali-carbonato, sugerindo que cerca de 20% dos materiais utilizados eram insalubres.”
Outro estudo revelou a presença de agregados estranhos em barreiras de concreto deterioradas ao longo de rodovias, o que levou à formação de gel de sílica. As partículas de coloração específica indicaram zonas de oxidação e a formação de cristais de ferrugem. Em relação à infraestrutura, Katalin mostrou dois casos: um pavimento de um aeroporto apresentou o fenômeno conhecido como “pop-out”, um tipo de esfoliação do concreto causado por partículas maiores, devido a presença de etringita, e o rompimento de um tubo de água de concreto protendido, que causou a inundação de um laboratório universitário. O caso foi estudado por meio de tomografia computadorizada, que revelou corrosão induzida por cloro, mesmo na ausência de cloretos na composição original do concreto.
Katalin ainda comentou sobre o colapso de um silo agrícola, apenas cinco anos após sua construção, o que levou a uma investigação detalhada, com a coleta de amostras de diferentes partes da estrutura, que constatou carbonatação profunda e um ambiente interno altamente ácido. A origem desse ambiente foi atribuída à possível presença de ácido sulfúrico, decorrente da plantação de milho ou de processos de fermentação, o que acelerou a deterioração do concreto.