INDUSTRIALIZAÇÃO EM PAUTA
Possibilidade da utilização do pré-fabricado de concreto em obras de portes distintos e finalidades variadas, atendendo projetos arquitetônicos ousados e diferenciados, reforçam a versatilidade do sistema construtivo, cujos resultados, segundo os arquitetos, são extremamente positivos para os atores envolvidos na obra e para o público final
Marcio França: “O resultado do uso da pré-fabricação é bom para todos os atores participantes da obra”
Padovano pontua que os edifícios são responsáveis por mais de 40% das emissões de gases nocivos para o equilíbrio ecossistêmico do planeta, um valor muito elevado se for comparado aos 8% de emissões dos automóveis. Dessa forma, ele prossegue ressaltando a importância da compreensão do ciclo da sustentabilidade, no qual é preciso percorrer o caminho que leva desde a obtenção da matéria prima, seu transporte até as unidades de fabricação, a energia necessária para sua produção, o transporte até os locais de execução das obras, e os processos de uso e manutenção, passando pelas tecnologias de condicionamento do ar e iluminação artificial dos ambientes de uso humano, idealmente maximizando o uso os recursos naturais do planeta, de forma consciente e correta, com relação a sua preservação para o bem-estar de futuras gerações de seres humanos.
Desse modo, em sua avaliação, a pré-fabricação sustentável pode usar ao máximo os cinco conceitos associados à sustentabilidade: repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar. “Redimensionando, essencialmente, o consumo energético e da água, os sistemas de pré-fabricação podem auxiliar a humanidade em sua luta contra o aquecimento global e o avanço da desertificação do planeta”.
Novas tecnologias para os arquitetos
Outra questão trazida pelos arquitetos entrevistados na matéria foi o BIM (Building Information Modeling). Para a maioria deles, existem uma relação entre a plataforma e a industrialização da construção.
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“Sem dúvida, o BIM ajuda na divulgação detalhamento e compreensão mais apurada dos sistemas pré-moldados, mas infelizmente a industrialização da construção no Brasil esbarra muito no baixo custo dos sistemas tradicionais brasileiros, que por sua vez se alimentam do abismo social do país. Enquanto for mais barato um trabalhador mal pago realizar uma estrutura e vedação in loco, mais difícil fica a adoção do sistema industrializado em todas as escalas e padrões de sofisticação da construção nacional”, lamenta.
Sophia considera que as novas tecnologias de projeto como é o caso do BIM são muito úteis na implementação de controles tanto na fase de projeto quanto na fase de produção, chegando, por fim, ao canteiro nos controles da própria montagem, incrementando assim a produtividade final do objeto a ser construído. “As novas tecnologias vieram para ficar e ajudar ao projeto no inter-relacionamento de especialidades, a saber a arquitetura e engenharias; na produção industrial com incrementos de controles de produtividade e verificação dos componentes e por fim no canteiro auxiliando o planejamento a liberação de frentes e o fluxo da própria montagem”.
Na avaliação de Padovano, o BIM trata-se de uma abordagem revolucionária no campo da construção e ainda pouco explorada no Brasil, mas as novas normas voltadas à construção civil tornarão sua aplicação obrigatória, especialmente em edifícios públicos. Por isso, em sua opinião, unir as vantagens da industrialização flexível do nosso período histórico com a grande liberdade formal e espacial da era digital é sem dúvida um dos desafios mais interessantes para os profissionais de projeto diante dos desafios do mundo contemporâneo (com a população mundial ainda em fase acelerada de crescimento, com recursos materiais que se tornam cada vez mais escassos), dentro de um espírito crescente de colaboração, multidisciplinaridade e compartilhamento de informações facilitada pelos avanços nas telecomunicações e informática em geral.
Contudo, Paulo Campos alerta que não se pode subestimar a incorporação das tecnologias inovadoras na arquitetura industrializada. Isso porque para as empresas precisam pensar no presente, mas com o olhar no futuro, para o desenvolvimento de produtos, que irão atender essas tendências. “Esse desenvolvimento está vinculado à inovação, fator que faz a diferença e é de extrema importância em termos de competitividade. Afinal, somos um mundo globalizado e, por vezes, aparecem demandas do exterior, que exigem um determinado nível de resposta que empurram para a contemporaneidade não apenas no Brasil, mas no mundo. Assim, temos que tirar proveito dessa globalização, incorporando tecnologias inovadoras, para estarmos integrados ao estado da arte”.
Campos mencionou ainda a evolução tecnológica na cadeia de pré-fabricados de concreto tanto em temos de software, mas também de “hardware”, quando tratou do desenvolvimento de materiais, como a aplicação de concreto de alto desempenho reforçado com fibra de vidro e o concreto de ultra alto desempenho.
Já Aflalo fez um contraponto nessa questão, ao dizer que as estruturas pré-moldadas teriam que dar um “salto”. “O pré-moldado, através de alguma evolução das conexões e do uso do BIM, poderia estar desenvolvendo elementos muito mais complexos em estruturas (não ortogonais), muito mais eficientes”, esclarece.